Consumo nas favelas: o Funk Ostentação e o Funk Consciente

 Consumo nas favelas:
o Funk Ostentação e o Funk Consciente

Neste post, gostaria de fazer uma dedicatória ao 1º episódio do Universo das Relíquias, disponível no Youtube, realizado pelo Laboratório de vivências periféricas (@vivencia.lab), gerenciado por Wesley Xavier (@ogumdoce), pesquisador especialista em comportamentos de consumo periféricos.
Primeiramente, quero trazer um trecho específico, onde duas jovens do município de Osasco, -situado na Zona Oeste de São Paulo- contam sobre as dificuldades passadas por sua mãe e o que as movem para proporcionar o melhor para sua família. Na legenda, Wesley comenta, através do perfil do Instagram @vivencia.lab, a seguinte frase:

"Diferente de outros grupos sociais, as pessoas de periferias carregam em si um senso de responsabilidade e compromisso com seus familiares quando pensam em mobilidade social, crescer financeiramente é o caminho para ofertar uma melhora de vida para si e para seus familiares, muito diferente de outros grupos que levam em consideração a construção de autonomia e independência quando pensam em mobilidade social."     (Xavier, 2023).
Captura de tela, Canal Cinequebrada. (2023, 25 de agosto). Universo das Relíquias - EP 01. [Vídeo]. Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=dCJKUEkTDGE

O tipo de consumo elevado, observado nas favelas, é transformado na Ostentação, que é forjada pela dificuldade, sufoco, falta de acessibilidade e de igualdade. Essa distinção acentuada é fruto, sobretudo, de um Brasil colonial e escravagista, que reflete no contexto atual do país. Devido a todo esse histórico de opressão observado, também, nos dias de hoje, o resultado traduz-se em "(...) um movimento cultural resultante e extremante expressivo como consumo denominado Ostentação. Revelando a ânsia da classe trabalhadora de se sentir próxima, ainda que simbolicamente, do estilo de vida que sempre lhe foi vendido como ideal, mas que sempre lhe foi negado." (Covre, 2015. p.17).

Há, ainda que intrinsecamente, a ideia de "ter para ser", que acompanha a sociedade de consumo ao longo de décadas. Entretanto, os "combustíveis" que movem os favelados são a família e o sonho da melhora de vida, que foge dos padrões do individualismo que a sociedade capitalista alimenta. Assim, concluímos que, o consumo periférico é uma forma de existência e é utilizado com método para alcançar a pertença na sociedade brasileira.

O Funk, é utilizado como ferramenta porta-voz daqueles que não são ouvidos. E, não é sobre não quererem falar, mas sim, sobre como a maioria não quer ouvir. O chamado Funk ostentação já fala, há anos, sobre o desejo de ascensão da favela na qualidade de vida e, há alguns anos, surge o Funk Consciente, que aborda, de maneira mais política e clara as dificuldades e as reivindicações das periferias, que clama, muitas vezes, apenas pelo básico dos direitos que deveriam ser de todos os cidadãos.

A música, escrita por Paulo Alexandre Marques Santos e cantada por Mc Marks, "Céu de Pipa", foi lançada em 2020 e, expõe a falta de condições que muitos passam dentro das favelas. Mas, exalta, sobretudo, o sonho de todo favelado:


"Sonhei que a favela 'tava linda

Que todas as parede tinha tinta

Criançada corria na rua e o céu 'tava cheio de pipa

Ninguém com a barriga vazia

E as dona Maria sorria

Tinha até barraco com sacada

Virado de frente pra piscina, acredita?"


Referências: 



Comentários