Análise de um artigo científico

Funk ostentação em São Paulo: imaginação, consumo e novas tecnologias da informação e da comunicação.

O autor, Alexandre Barbosa Pereira, é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). E, além disso, pesquisador associado ao Laboratório do Núcleo de Antropologia Urbana da USP, entre muitos outros papéis que desempenha.

Dentre diversas pesquisas realizadas pelo mesmo, me chamou atenção uma em particular: que aborda o Funk ostentação paulista. Na qual, o trabalho de campo foi realizado em 2012, onde o autor relaciona o estilo musical, com o sonho de sair da pobreza e a ostentação de marcas de grife.

No artigo, o antropólogo expõe a dificuldade em acompanhar os chamados “bailes funks”- que eram realizados nas ruas da capital paulista e da Baixada Santista, devido a repressão policial persistente, que afastavam a população presente com “bombas de gás lacrimogêneo e sprays de pimenta” (Pereira, 2014, p.3). Os bailes eram frequentados, sobretudo, por jovens pobres e de classe média baixa. Devido às dificuldades sentidas, o investigador começou a frequentar algumas casas noturnas, como a Nitronight, localizada em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista. Dentro deste ambiente, observou que o Funk era o mais desejado pelo público em geral.

Houve um paradoxo entre a observação e o sentido auditivo do autor, pois ao mesmo tempo em que se via e se ouvia muita coisa, não eram perceptíveis para o olhar de quem não sabia o que estava à procura. Com isso, a atenção voltou-se às letras das músicas, como por exemplo, no sucesso da época de Mc Danado, que canta “Vida é ter um Hyundai e uma Hornet, dez mil p'ra gastar, Rolex, Juliet. Melhores kits, vários investimentos. Ai como é bom ser o top do momento”, onde o cantor cita marcas de carros, motos, relógios e óculos. Com o conhecimento obtido através de diversos funks que citavam diferentes marcas de automóveis e de bebidas alcoólicas, relativamente caras, - como o Chandon e o Black Label - Alexandre começou a notar a vestimenta dos jovens e a estética dos admiradores da ostentação.

Dentro do universo vasto do Funk, o Funk Ostentação trouxe inovações no audiovisual e produção de videoclipes, que valorizavam a exibição dos produtos citados pelos Mcs em suas músicas, que teve um enorme impulso devido às redes sociais. Sendo citado um dos maiores diretores, produtores e DJs, Konrad Dantas, empresário da Kondzilla.

Os artistas, nos videoclipes que gravam e descarregam no Youtube, se “(...) apresentam como personagens ricos (ou do modo como imaginam o que seria ser rico), que se divertem exibindo produtos caros e notas graúdas de dinheiro, às vezes jogando-as para o alto. De certo modo, tentam transformar a imaginação em realidade.” (Pereira, 2014, p.8). Essa perspectiva demonstra como esbanjar a riqueza, através das letras das músicas, se torna mais uma realidade imaginada do que uma realidade palpável de fato. Partindo deste contexto da participação dos meios de comunicação relacionado com a vida real, o antropólogo indiano Arjun Appadurai (1997) destaca a crescente centralidade do deslocamento no mundo contemporâneo, atribuindo essa mudança à intensificação das migrações e ao avanço das tecnologias de informação e comunicação. Ele argumenta que esses elementos desempenham um papel fundamental na formação das subjetividades modernas. Appadurai ressalta a importância da imaginação nesse contexto, indicando que, mesmo sem se deslocarem fisicamente, as pessoas têm a capacidade de se imaginar em outros lugares por meio dos meios de comunicação.

Assim, o Funk apresenta um crescimento exponencial, ultrapassando e “roubando a cena” do Hip Hop no Brasil. Segundo Alexandre Pereira, a exaltação da figura feminina nas letras dos Funks atraiu esse público que pouco tinha espaço dentro do Hip Hop, tanto como cantoras ou como dançarinas de break. Além disso, em muitas letras de Rap/Hip Hop, depreciavam as mulheres e as apontavam como interesseiras. Já no Funk ostentação, a presença feminina era mais do que desejada, era idolatrada e, a atração das mulheres por homens que apresentavam maior poder aquisitivo, já não era uma questão negativa, como era no Rap. Dois exemplos de canções citadas pelo autor são:

"Ela não anda, ela desfila

Ela é top, capa de revista

É a mais mais, ela arrasa no look

Tira foto no espelho pra postar no Facebook."

(Mc Bola)

[29]

"Pode deixar que ela vai,

Escolher uma noitada

Não é interesseira,

Mas quer andar bem acompanhada."

(Mc Pikeno e Menor)

[30]

As questões de gênero e consumo são abordadas pelo antropólogo de forma não aprofundada. Entretanto, o mesmo cita e ressalta a pertinência dessas perspectivas para entender o sucesso, o objetivo, quem o consome, quem o faz e o impacto no estilo de vida das pessoas que consomem o Funk Ostentação.





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